O gênero Malassezia compreende 17 espécies de leveduras lipofílicas e
lipodependentes, componentes naturais da microbiota da pele dos animais
homeotérmicos, incluindo humanos, e conhecido agente oportunista em dermatites e
otites. A maior parte da casuística de otite fúngica em cães é atribuída a M.
pachydermatis, mas espécies lipodependentes também podem ser agentes desta afecção,
sendo possível que haja subdiagnósticos. Na rotina clínica veterinária, é comum o uso
do exame direto de amostras otológicas como ferramenta auxiliar para direcionar uma
melhor conduta terapêutica. Tendo esses pontos em vista, o trabalho objetiva realizar
isolamento de Malassezia spp. a partir de amostras de otite de cães e gatos,
identificando-as à nível de espécie, observar a presença da Malassezia em infeções
mistas ou puras, verificar in vitro a produção dos principais fatores de virulência
inerentes à patogenicidade e correlacionar a produção dos fatores de virulência com a
natureza da infecção. Foram utilizadas 170 amostras oriundas dos condutos auditivos
externos de 94 cães e 11 gatos com otite clínica, encaminhadas ao Laboratório de
Leveduras Patogênicas e Ambientais, onde foram semeadas nos meios Agar Dixon
Modificado e Agar Sabouraud Dextrose 2% com Cloranfenicol. Foram realizados testes
clássicos para identificação fenotípica, como preconizado por Kurtzman et al. (2011) e
análise proteômica por Maldi-TOF e bioquímico por VITEK2 ® para confirmação da
identificação. Para análise da virulência foram testadas as produções de proteases,
fosfolipase, lipases, esterases e hemolisina. Dos 105 animais, 63% (66) animais
possuiam Malassezia sp. nas suas amostras, sendo uma lipodependente, e 37% (39) não
tinham a levedura. O valor preditivo positivo e negativo do exame direto foram 75,58 e
67,19%, respectivamente. A sensibilidade do exame em relação ao isolamento foi de
75,58% e a especificidade de 67,19%. Não houve diferença estatística entre a
recuperação das leveduras no diagnóstico em Agar Sabouraud Dextrose 2% e Agar
Dixon Modificado. A identificação por espetrofotometria de massa teve 82% de
acurácia na identificação dos isolados e as restantes não tiveram scores de identificação,
enquanto o VITEK ® , identificou erroneamente todas as amostras. Para os testes
enzimáticos, 100% (96) das amostras foram positivas para a produção de proteases e
lipases. Apenas uma amostra não foi produtora de fosfolipase e esterase. 89% (86)
amostras foram positivas para a produção de hemolisina. Conclui-se que a utilização do
Agar Dixon Modificado é importante na rotina laboratorial de diagnóstico
microbiologico de otites canina e felina, para ampliar a gama de espécies de Malassezia
diagnosticadas. O exame direto mostrou ser um bom indicador para a presença da
levedura, mas não necessáriamente para indicar seu envolvimento na infecção. Para
além, percebe-se que essas leveduras in vitro possuem alta atividade enzimática,
podendo fazer parte da patogênese da otite microbiana, mesmo quando não é o principal
agente envolvido, como nas otites mistas, mesmo as que possuem contagens baixas no
isolamento.